Tenho um amigo pessimista, fatalista, supersticioso e torcedor do América. Deste modo, o prezado leitor já imagina que, para ele, não há solução para mais nada. Tudo está irremediavelmente perdido. E não é para menos. Com esse quadrado mágico (de magia negra, certamente) a lhe governar a vida, não lhe sobram muitas esperanças.
A última de que dispunha – e fazia questão de alardear aos quatro ventos – dizia respeito àquela frustrada previsão do fim do mundo, baseada no calendário maia.
Por mais de uma vez, eu lhe disse que isto era uma baboseira. Se a ciência moderna, com maiores recursos tecnológicos e mais conhecimentos acumulados, não pode precisar quando se isto dará, como povos menos desenvolvidos saberiam? É uma questão lógica, que para um supersticioso, entretanto, não faz o menor sentido. E era como se eu pregasse no deserto.
Passado o fatídico e inglório – para ele – dia 21/12/2012, sem que nada de anormal acontecesse, nem mesmo a paliativa explicação de que se trataria simplesmente de uma mudança de era ou do ser humano, o que também não ocorreu, voltamos a nos encontrar e ainda brinquei dizendo-lhe que o tal calendário maia era de César Maia e não poderia dar certo mesmo. Achou a brincadeira sem graça, mas não perdi o amigo.
Mal o ano novo deu as caras, e ele já me mandou e-mail, alertando para a vinda de um asteroide em direção a este planeta. E ainda dizia: o povo todo preocupado com Carnaval e folia, sem atinar para a gravidade do momento.
Fui para a Grande Rede procurar sobre o tal asteroide e, mais uma vez, pude deduzir que não seria também desta vez. O Apocalipse não ocorreria.
Recalcitrante, nem quis ouvir uma piada sobre mais este evento catastrófico que estava nascendo.
O asteroide passou batido. Contudo um meteorito, incerto e não sabido, causou estragos na Rússia ontem. Veio zumbindo pelo céu como uma nave louca e provocou estragos em construções, pane eletromagnética e ferimentos em pessoas.
Liguei para ele, para saber por que diabos ele não me avisara desta ameaça que se consumou efetivamente em terras de Putin. Aliás nem a NASA, nem astrônomos, que vivem bisbilhotando o céu, previram a chegada de tal meteorito, que foi fotografado apenas por paparazzi ao entrar na atmosfera terrestre.
E brinquei novamente com ele, dizendo ter sido como aquele tipo de atacante veloz que, subitamente, aparece às costas do zagueiro, para meter a bola nas redes. Aproveitei a oportunidade para reafirmar que, se e quando tal catástrofe ocorrer, ele poderá ter a certeza de que será pego de surpresa, como ocorreu com os russos da região de Chelyabinsk.
Ele me disse lá uma imprecação que o bom senso me diz não publicar.
2013, como seu próprio número indica, é um ano fadado a ter piores referências do que o inocente 2012, que fez das suas, mas tudo dentro do previsto para que o ser humano, esta espécie animal presunçosa, ainda não se tornasse obsoleta sobre a face da Terra.
E vamos tocar o barco, porque o Carnaval terminará no domingo e o país espera que cada um cumpra com o seu dever. O meu já fiz, tanto que me dou ao desfrute de estar no ócio remunerado da aposentadoria por tempo de serviço.
E, por favor, meu amigo catastrofista, deixe o mundo acabar em paz!
O meteorito desgovernado sobre a Rússia (não basta o Putin) (em oficinadanet.com.br).