Estava detido em casa
Aguardando alforria
Olhava pela janela
Principiava o dia
O sol na aba do céu
Espargindo alegria
E nessa marcha seguia
O sol no rumo da trilha
Agora estava a pino
Boiando como uma ilha
Na imensidão azulada
Percorrida tanta milha
E em descendo esmerilha
O lado do seu poente
A procurar um abrigo
Para as bandas do ocidente
Deixa no céu uma luz
De um brilho descendente
Esconde-se bem em frente
Ao mar de azul manchado
Pintando nuvens remissas
De um laranja irisado
De roxo quase vermelho
E de rosa amarelado
E o quadro aquarelado
Aos poucos vai-se amainando
O sol atrás das montanhas
Com sua luz desbotando
Ao borrar a escuridão
A noite vinha chegando
Com atenção espiando
A tudo isso assistia
Os olhos sempre atentos
A registrar a magia
Que a natureza nos brinda
Em muita fotografia
Eu procuro o fim do dia
Coleciono arrebol
Acompanho atentamente
Desprezo até futebol
Me considero por isso
Caçador de pôr do sol.
Pôr do sol em Icaraí, Niterói, tendo ao fundo o Rio de Janeiro (foto do autor).
O fim de tarde ontem, em Icaraí, foi espetaculoso. Parece que São Pedro derrubou a prateleira de tintas primárias, do que resultou o espetáculo. Cheguei ao calçadão da praia um pouco antes das dezoito horas e comecei a registrar os efeitos da luz solar na paisagem, nas nuvens e no horizonte. Aqui organizo em dez imagens, em ordem cronológica, para que meu leitor observe a construção de um pôr do sol bafônico, espetaculoso, ostentoso.
Ontem, um pouco depois das dezessete horas, ao chegar à varanda, vi que, no prédio próximo ao meu, dois homens estavam no terraço observando alguma coisa. A sua imagem em contraluz me instigou a registrar a cena. Aí vão as fotos.
Ainda é timida a primavera. Pelo menos, é o que pude constatar em Itaipava neste último fim de semana. Ficamos hospedados numa pousada a cerca de seis quilômetros da vila, em lugar de conforto visual e contato com a natureza, e tive esperança de que que teria a primavera a nos inundar. Mas estamos nos trópicos, apesar da altitude do distrito de Petrópolis, e as flores esperadas ainda são muito poucas, quase nada. Mesmo assim, me municiei da câmara fotográfica e saí a cata de alguns exemplares. Vi até jacus no espaço entre árvores frondosas. Embora eu seja de pequena vila do interior, só sei de algumas dessas aves por ouvir falar. Meu pai sempre se referia a diversas delas, mas me dizia que estavam sumidas, em virtude de excesso de caça. A política de preservação tem feito um grande bem à nossa fauna. Em setenta anos de vida, foi a primeira vez que vi jacus. Francisco, com quatro, já teve esta oportunidade.
Aí estão alguns registros da primavera na Serra Imperial de Petrópolis.
Neste último domingo, resolvemos ir à festa Santos Populares Portugueses, no Armazém da Utopia, no renovado cais do Rio de Janeiro. Além de mim e Jane, iam conosco Estefânia e Francisco, filha e neto. Por volta das treze horas e trinta, ao nos aproximar do local, através da Via Binário, percebemos que a fila de entrada dava voltas. Como Francisco já tivesse revelado estar com fome, decidimos mudar os planos.
Estefânia trabalha na esquina da Avenida Rio Branco com a Rua Visconde de Inhaúma e conhece vários restaurantes nas imediações. E, como soubesse do interesse da mãe em conhecer o Morro da Conceição, bem ali perto, sugeriu que almoçássemos no Bar Imaculada, numa das subidas do morro.
Pegamos a escadaria pela Travessa do Liceu e chegamos à Ladeira do João Homem, uma das subidas do morro, onde se localiza o bar. A Praça Mauá não fica longe dali.
Almoçamos e saímos a conhecer o local. Subimos toda a Ladeira até chegar ao largo onde se ergue a Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição, construção portuguesa de 1713 no local de uma antiga bateria de canhões do invasor francês Dougay-Trouin.
Descemos a Rua do Jogo da Bola, até uma pracinha acanhada, com alguns poucos brinquedos para crianças, onde Francisco se divertiu. Depois pegamos a Travessa Joaquim Soares, que chega até o Observatório do Valongo, de grande portão fechado. Tomamos as ruas de volta para o largo da Fortaleza, a fim de descer a Rua Major Daemon até a Rua do Acre, onde pegamos o carro de volta a casa.
Foi um domingo interessante, a conhecer um pouco da história e da arquitetura de um Rio de Janeiro que se preserva, a despeito de toda a nossa pouca preocupação com o passado. Aí estão algumas fotos, a ilustrar o nosso passeio.
Ladeira do João Homem
Casas na Ladeira do João Homem
Outra vista das casas da Ladeira do João Homem
Fachada do Imaculada Bar e Galeria
Janela na Ladeira do João Homem
Jane, Francisco e Estefânia no fim da subida da Ladeira do João Homem
Largo da Fortalea de Nossa Senhora da Conceição, com a imagem no pedestal
Francisco se diverte na pracinha.
Lateral da Fortaleza da Conceição
Muro frontal da Fortaleza da Conceição
Serviço Geográfico do Exército, na Rua Maj. Daemon
A Usina do Queimado, segundo consta*, foi a primeira usina de açúcar do município de Campos dos Goytacazes-RJ. Foi implantada pelo comendador João Ribeiro de Castro, com recursos próprios, e teve todo seu conjunto de máquinas, fabricado por Bailers Ltd., importado da Escócia. A usina substituiu o antigo engenho de cana que havia na propriedade, ainda hoje uma grande extensão de terra, boa parte dela já na zona urbana da cidade, em expansão.
Estive lá levado por meu sobrinho Ernesto, que tamém sugeriu o assunto, e fiz diversas fotos do que sobrou daquela que já foi uma das maiores produtoras de açúcar do Estado do Rio de Janeiro. O cenário, hoje, é dramático.
Não ponho no pôr do sol
Os olhos que não tenho
Tento apenas ver aquilo que entrevejo
– como se fosse impossível vê-lo –
No largo panorama em que o sol dardeja
Os raios luminosos de longe amortecidos
Por serras nuvens árvores
De um céu capcioso – ou nem tão isso –
Que possam enternecer o modo impreciso
Com que costumo ver
Com certa incerteza
O grande espetáculo da (in)visível natureza.
Pôr do sol na Praia do Gragoatá, Niterói-RJ (foto do autor).
Já disse alhures que o Museu de Arte Contemporânea de Niterói, obra-prima de Oscar Niemeyer, é mais fotografado que mulher nua. Eu mesmo não tenho uma foto sequer de mulher nua. Do MAC, contudo, tenho talvez às centenas.
Pois ontem, depois de alguns dias de abstinência fotográfica, saí à cata do que registrar, sempre pelos mesmos lugares a que a preguiça me impele. Peguei a mochila com os equipamentos, coloquei-a às costas e caminhei pelo calçadão de Icaraí, subindo o morro onde se encontra o museu, até chegar à avenida litorânea do Gragoatá, em frente ao campus da UFF. Além das fotos realizadas, comprovei mais uma vez que descer morro dá um prazer enorme, sobretudo depois que você o subiu, quase a se esfalfar, a língua pendurada sobre a barriga sôfrega.
Entre o resto de luz da ida e a já escuridão da noite, fiz vários registros, dos quais trago aqui estes que vão aí abaixo.
Embora este seja um motivo recorrente, espero que o amigo leitor goste e me perdoe a insistência. Para ampliar, é só clicar sobre a imagem.
Andei por Bom Jesus do Norte-ES, onde mora minha mãe, e por Visconde do Rio Branco, terra das amigas Cléia Miranda e Clarice Diniz, nestes últimos dias. Justamente quando pude flagrar a Lua Cheia no seu auge: dias 19 (fotos de 1 a 7, em Bom Jesus do Norte) e 20 (fotos de 8 a 12, em Visconde do Rio Branco). Estou tentando entender a Lua como objeto fotográfico, de forma empírica, no método de tentativa e erro. Não sou profissional, apenas um fotógrafo intuitivo e diletante, que procura ocupar algumas horas de folga na observação das coisas da vida.
Assim, trago aqui alguns dos registros feitos nos céus dessas duas cidades nem tão distantes assim no mapa do Brasil.
Espero que gostem. (Para ampliar, cliquem na foto.)